ARCHANA-VIGRAHA

Adoração de Srimurti



________________________

Srila Bhaktivinod Thakur
______________________
Há aqueles que se alarmam diante da teoria da adoração de Srimurti. "Oh", dizem eles, "é idolatria adorar Srimurti! Srimurti é um ídolo emoldurado por um artista e introduzido por ninguém mais do que o próprio Belzebu. Adorar tal objeto despertará o ciúme de Deus e limita Sua onipotência, onisciência e onipresença!"

Nós diríamos a eles: Irmãos, candidamente compreendam a questão e não permitam que dogmas sectários os desorientem. Deus não é ciumento, já que Ele é uno e sem igual. Belzebu ou Satã nada mais são do que objetos da imaginação ou assunto de uma alegoria. Não se deve permitir que um ser alegórico ou imaginário aja como um obstáculo a bhakti (devoção).

Aqueles que acreditam que Deus é impessoal, simplesmente identificam-nO com algum poder ou atributo da Natureza, ainda que, de fato, Ele se encontra acima da Natureza, de suas leis e regras. Sua doce vontade é a lei, e será um sacrilégio confinar Sua excelência ilimitada identificando-O a tais atributos como onipotência, onipresença e onisciência –atributos esses que podem existir em objetos criados tais como o tempo e o espaço etc. Sua excelência consiste de existir nEle poderes mutuamente contraditórios e atributos governados por Seu Ser sobrenatural. Ele é idêntico à Sua personalidade toda-bela, possuindo tais poderes como onipresença, onisciênica e onipotência como não podem ser encontrados em nenhum outro lugar. Sua personalidade sagrada e perfeita existe em toda sua plenitude e eternamente tanto no mundo espiritual e ao mesmo tempo em cada objeto e local criados. Esta idéia ultrapassa todas as demais ideias da Deidade.

Mahaprabhu também rejeita a idolatria, mas considera a adoração de Srimurti como sendo o único meio excepcional de cultura espiritual. Foi mostrado que Deus é pessoa e todo-belo. Sábios como Vyasa e outros viram essa beleza com os olhos de suas almas e nos deixaram descrições. É claro que a palavra carrega consigo a densidade da matéria. Mas a Verdade é ainda perceptível nessas descrições. Conforme essas descrições, a pessoa representa pictoreamente uma Srimurti e com prazer intenso vê o grandioso Deus de nosso coração lá! Irmãos, isso é errado ou pecaminoso?

Aqueles que afirmam que Deus não possui forma material nem espiritual e mais uma vez imaginam uma forma falsa de adoração são certamente idólatras. Mas aqueles que, vendo a forma espiritual da Deidade com os olhos de suas almas, carregam essa impressão na medida do possível até a mente e então emolduram um emblema para a satisfação dos olhos materiais, tudo destinado ao estudo contínuo de um sentimento superior, não são de modo algum idólatras.Enquanto olham para uma Srimurti sequer percebem a própria imagem mas enchergam o modelo espirtual da imagem e são teístas puros.

Idolatria e adoração de Srimurti são duas coisas distintas, mas, meus irmãos, vocês simplesmente confundem uma pela outra devido à sua precipitação. Para dizer-lhes a verdade, a adoração de Srimurti é a única forma verdadeira de adoração da Deidade, sem a qual você não pode cultivar o bastante seus sentimentos religiosos. O mundo atrai você através de seus sentidos e, enquanto você não vir a Deus nos objetos de seus sentidos, você viverá numa posição embaraçosa que em muito pouco ajuda você a garantir sua elevação espiritual.

Ponha uma Srimurti em sua casa. Pense que o Deus todopoderoso é o guardião da casa, a comida que você aceita é a Sua prasada, e as flores e perfumes também são Sua prasada. Os olhos, nariz, tato e língua, todos têm uma cultura espiritual. Você o faz com um coração sagrado, e Deus saberá isso e julgará você por sua sinceridade. Satã e Belzebu nada terão a ver com você nesse assunto! Todos os tipos de adoração baseiam-se no princípio de Srimurti.

Examine a história da religião e você alcançará essa nobre verdade. A idéia semítica do Deus patriarcal, tanto no período pré-cristão do judaismo como no período pós-cristão do maometanismo, nada mais é do que uma idéia limitada de Srimurti. A idéia monárquica de um Júpiter entre os gregos e de um Indra entre os karmakandis arianos também formam uma visão diferente do mesmo princípio. A idéia de uma força e do Jyotirmaya brahma dos meditadores e de uma energia sem forma dos shaktas também é uma visão tímida de Srimurti. De fato, o princípio de Srimurti é a própria Verdade exibida de modo diferente por pessoas diferentes de acordo a suas diferentes fases de pensamento. Até mesmo Jaimini e Comte que não estão preparados para aceitar um Deus criador prescreveram certas fases de Srimurti, simplesmente por terem sido impelidos por alguma ação interna da alma! Assim, mais uma vez encontramos pessoas que adotaram a cruz, a shalagram shila,
a lingam e emblemas desse tipo como indicadores
das idéias interiorizadas de Srimurti.

E mais, se a compaixão, o amor e a justica Divinas podem ser retratados por um lápis e expressadas pelo cinzel, por que não o seria a beleza pessoal da Deidade abrangendo todos os demais atributos retratados na poesia ou numa imagem expressa pelo cinzel para o benefício do homem? Se palavras podem impressionar pensamentos, se o relógio pode indicar o tempo, e sinais podem nos contar uma história, por que uma imagem ou figura não poderiam produzir associações de pensamentos e sentimentos mais elevados com respeito à beleza transcendental do Personagem divino?
_________________________________________

(Extraído do livro Chaitanya Mahaprabhu's Life and Precepts de Srila Bhaktivinod Thakur, em sua edição do 'Guardian of Devotion', edição de 1986.)